Será o fim da Construção Tradicional?

 

Todo mundo que nasceu entre as décadas de 80 e 90 já jogou – ou ao menos ouviu falar – do jogo eletrônico Tetris. Desenvolvido por três russos em 1984, o game que consiste basicamente em empilhar peças se tornou um sucesso mundial. Mas quem não gosta de videogames pode exercer seu raciocínio lógico com os quebra-cabeças. É possível encontrar as peças do jogo reproduzindo belas paisagens, obras de arte famosas e até mesmo construções e monumentos históricos.

Você com certeza deve estar questionando a improvável relação entre jogos de encaixe e a arquitetura. Mas, no tema desse texto, a analogia não poderia ser mais verdadeira.

CONSTRUÇÃO OFF-SITE

Durante muito tempo a indústria da construção civil se manteve basicamente manual, com o domínio de técnicas obsoletas. Com a revolução tecnológica e a rapidez em que as coisas mudam e precisam ser resolvidas, a construção civil precisou adequar seus processos.

O mais recente da arquitetura e engenharia contemporâneas estão ligadas às novas tecnologias e formas de se realizar uma obra, já que cada vez mais o cliente busca soluções rápidas para construir. Assim, temos acompanhado uma revolução nos últimos anos, e a industrialização do processo construtivo tem transformado o canteiro de obras em uma adequada linha de montagem.

Estamos falando da construção off-site. Agilidade e modernidade são características inerentes à essa construção. Trata-se de uma construção industrializada que se baseia na aplicação de sistemas pré-fabricados. São elementos produzidos fora (off-site) e que chegam ao canteiro prontos para serem montados.

A maior diferença entre a construção off-site e a convencional é que uma já vem “pronta” e a outra precisa ser edificada do zero, no canteiro de obras. Além disso, podemos destacar outras distinções. A construção off-site, por ser pré-fabricada, tem um tempo de execução mais ágil, possibilitando maior mobilidade aos processos envolvidos, e ainda assim garantindo personalização e ajustes posteriores.

OTIMIZAÇÃO DE TEMPO E RECURSOS

Quando falamos de construção off-site falamos de revolução e de tecnologia. Afinal, os benefícios de adotar seus processos são inúmeros. A rapidez com que os projetos são executados torna esse método construtivo revolucionário.

Um exemplo dessa revolução consiste na redução de atrasos: as peças chegam ao canteiro de obras de acordo com a ordem de montagem estipulada no planejamento, utilizando-se para isso equipamentos e equipes qualificados, tornando a execução rápida e o risco de atraso na entrega minorado — afinal, processos industrializados são mais efetivos. Os projetos podem ser entregues até 6 vezes mais rápido se comparado ao método construtivo tradicional.

Prazos mais curtos para a entrega também reduzem o risco dos empreendimentos. Quanto maior o ciclo construtivo de uma obra, maiores são as chances do cenário macroeconômico se alterar durante a execução do projeto, impactando diretamente nas vendas. Também, há a chance de o conceito pensado para o projeto ficar obsoleto.

Como os componentes construtivos são produzidos em ambiente controlado, e suas partes transportadas depois de prontas para serem montadas no canteiro, um dos grandes benefícios desse processo industrial de construção é a produção em ambiente livre de intempéries climáticas. Logo, as peças que serão encaixadas posteriormente, dando origem a uma casa ou prédio, podem ser produzidas em uma fábrica, independente das chuvas, fortes ventos, alagamentos ou altas temperaturas, que em caso de construções em ambientes externos, acabam sempre incidindo na produtividade dos trabalhadores.

SEGURANÇA E PRODUTIVIDADE

 

A construção off-site oferece condições de trabalho mais humanas e seguras, reduzindo os riscos comuns de uma operação realizada no canteiro de obras, como quedas em altura, cortes e lacerações, picadas de insetos peçonhentos, além, é claro, de proporcionar aos trabalhadores um ambiente mais limpo e menos insalubre.

Como grande parte dos processos são automatizados e mecanizados, os erros e a quantidade de retrabalho são menores. Mas não é apenas o recurso do tempo que é otimizado. O emprego dos recursos financeiros sofre significativa redução com esse método.

A velocidade de montagem minimiza gastos com aluguel de equipamentos e pagamento de mão de obra, e o detalhamento e precisão dos projetos permite uma redução de desperdício de insumos ou despesas com transporte de entulhos. Logo, é possível ter um orçamento mais enxuto e mais assertividade quanto aos gastos.

A QUALIDADE DE UM PROJETO SUSTENTÁVEL

O baixo índice de problemas e retrabalho incidem diretamente na qualidade e eficiência de todo o processo, que é preciso, minucioso e ágil. Como o método de construção off-site utiliza estruturas com dimensões definidas previamente em projeto desenhado pelo arquiteto, a geração de resíduos é praticamente zero.

O método também reduz o uso de água em seus processos e os materiais utilizados na fabricação das peças e módulos (madeira, aço, estruturas metálicas) podem ser reciclados e reaproveitados. Em tempos em que a sustentabilidade deixou de ser apenas pauta dos jornais para virar um objetivo a ser conquistado pela indústria, temos mais um ponto para a construção off-site.

UM ARRANHA-CÉU MODULAR

Engana-se quem pensa que construir em módulos para posteriormente transportar as estruturas e montá-las no canteiro de obras só funciona para pequenos empreendimentos. O processo off-site pode ser aplicado em qualquer escala. Prova disso é o The Clement Canopy, o edifício mais alto em bases modulares do mundo, com 505 apartamentos residenciais de alto luxo.

Os 1.899 módulos das duas torres, de 56 pavimentos cada, que compõe o prédio localizado em Cingapura, foram construídos com elementos pré-fabricados de concreto. O núcleo de concreto do The Clement Canopy foi construído ao mesmo tempo em que os módulos eram empilhados e instalados, em uma sequência cuidadosamente coreografada.

Salas, quartos, banheiros, cozinhas, lavabos e áreas de serviço chegaram montadas ao canteiro de obras, incluindo as instalações elétrica e hidrossanitárias e o tratamento termoacústico de paredes e janelas. Cada módulo chegou 80% pronto no canteiro de obras. Isso reduziu o tempo de construção e o desperdício de material, assegurando melhor controle dos processos de produção e de logística.

MUDANÇAS À VISTA

O método off-site tem revolucionado o canteiro de obras e mostrado a profissionais e empresas um novo modo de edificar. Afinal, modernizar antigas técnicas da construção civil tem acelerado processos com mais inteligência, economia de tempo e dinheiro e menos impacto ambiental.

Projetamos o presente. Sendo assim, nunca foi pretensão responder a ambiciosa provocação do título desse texto. Não podemos afirmar que a construção off-site desencadeará o fim da construção tradicional.

Assim como os modernos videogames com personagens em terceira dimensão não conseguiram suplantar totalmente os entusiastas pelos joguinhos de encaixe criados na década de 80, como o Tetris, talvez nas próximas décadas ainda encontremos o tradicional canteiro de obras a pleno vapor. Mas uma coisa é certa: os processos estão mudando e a adesão a essas ferramentas de modernização consistem em um avanço de extrema importância e necessidade para todos.

Créditos: Imagem e texto extraídos do site Plus Arquitetura| https://www.plusarquitetura.com/sera-o-fim-da-construcao-tradicional/

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